Primeiro polímero fabricado será usado no tratamento da esquistossomose e é fruto de uma parceria entre a Coppe e a Fiocruz.
A Coppe /UFRJ inaugura amanhã (26) a primeira Planta Piloto de Polímeros do País capaz de escalonar tecnologias para a produção de micro e nanopartículas poliméricas com aplicações nas áreas médica, biotecnológica e farmacêutica. Sediada no Laboratório de Engenharia de Polimerização do Programa de Engenharia Química da Coppe, a Planta Piloto é um projeto que conta com financiamento do BNDES e da Finep, no valor total de R$ 11 milhões, e engloba uma área construída de 740 m2, que inclui a planta industrial, um conjunto de seis laboratórios e modernos equipamentos. A cerimônia de inauguração será, às 10 horas, no auditório da Coppe, no Bloco G, sala 122, Centro de Tecnologia, Cidade Universitária.
O primeiro produto da Planta Piloto da Coppe será um polímero em escala nano que armanezará o Praziquantel, um medicamento usado no tratamento da esquistossomose, doença que atinge 200 milhões de pessoas em todo o mundo e oito milhões no Brasil, onde as crianças são as principais vítimas. Este projeto está sendo desenvolvido por meio de uma parceria com a Fiocruz.
Segundo o professor José Carlos Pinto, coordenador do Laboratório de Engenharia de Polimerização da Coppe, o Praziquantel encapsulado apresenta vantagens em relação aos remédios tradicionais: possibilita o melhor aproveitamento do fármaco, reduzindo a perda no sistema gastrointestinal, e facilita sua ingestão, principalmente por parte das crianças, que costumam rejeitar o gosto amargo do remédio, prejudicando a eficácia no tratamento. Os continentes da América do Sul e da África são os que apresentam o maior número de casos, entre eles o Brasil, onde a doença é endêmica.
A Planta Piloto poderá também viabilizar a produção de protetores solares avançados, que até hoje não são comercializados por não poderem ser aplicados diretamente na pele. Neste caso, as nanopartículas de polímero funcionarão como uma espécie de filme, que aprisiona o filtro solar encapsulado, possibilitando a proteção aos raios solares sem prejudicar o organismo.
Pesquisadores da Coppe também passarão a produzir em escala industrial micropartículas de polímeros desenvolvidos no próprio laboratório para serem utilizados no tratamento do câncer, por meio da técnica de embolização. A tecnologia, que já teve sua patente depositada, vem sendo testada com sucesso.
Desafios no tratamento infantil - As crianças são as principais vítimas da esquistossomose. O tratamento atual da doença consiste em aplicações orais de doses diárias de 20 a 60 mg/kg. Atualmente só há no mercado a forma farmacêutica de comprimidos nas dosagens de 150, 500 e 600 mg. Uma criança de 3 anos de idade, com cerca de 20 Kg, no estado mais grave da doença, deve ingerir 1200 mg de Praziquantel (PZQ) diariamente. Como a maior dosagem de PZQ em comprimidos é de 600 mg, para o comprimido ter a dosagem de 1200 mg tem que ter aproximadamente 1 g de peso, pois ainda há os excipientes.
"Nenhuma criança consegue ingerir dois comprimidos de 600 mg em seqüência. A ingestão de uma única unidade farmacêutica já é por si só complicada, devido ao tamanho e o gosto ruim do medicamento", afirma a pesquisadora da Fiocruz, Laís Bastos da Fonseca.
Em virtude da ausência de medicamentos para o tratamento da esquistossomose de uso pediátrico, o Ministério da Saúde vem demandando há muito tempo o desenvolvimento do medicamento Praziquantel na forma farmacêutica de suspensão. Já foram realizados vários trabalhos para melhorar a taxa de liberação e/ou absorção do PZQ. No entanto, segundo a pesquisadora, na grande maioria das vezes as técnicas empregadas são limitantes, pois não possibilitam o aumento de escala para a produção industrial.
Segundo a pesquisadora da Fiocruz, a técnica de polimerização aplicada na Planta Piloto da Coppe é extremamente promissora e apresenta muitas vantagens: além do baixo custo, mantém a integridade do fármaco e mascara o sabor. "A técnica também possibilita obter as nanopartículas do fármaco em uma única etapa, o que permite o controle da distribuição do tamanho de partícula e facilita o aumento de escala", ressalta Laís.
(Ascom da Coppe/UFRJ)