Investimento em inovação fica abaixo do previsto
17/09/2010

Para Sergio Rezende, ministro de Ciência e Tecnologia, ainda falta a cultura do investimento para parte das empresas

Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil têm crescido, mas a passos lentos. Em 2010, eles devem alcançar 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende.

 

Em 2009, a participação foi de 1,2%, e em 2008, de 1,1%. A expectativa do governo era de que ao fim de 2010, ano que encerra o Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional (PACTI), o percentual chegasse a 1,65%, puxado principalmente pelo aumento da participação do setor privado, hoje em 0,5%.

 

"Faltou uma maior participação do setor privado, mais empresas investindo em inovação. Estamos no caminho certo, só é preciso mais empenho nos investimentos", disse o ministro nesta quarta-feira após almoço com a diretoria da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). Um patamar ideal de participação dos investimentos em inovação no PIB é acima dos 2%, segundo o ministro.

 

Rezende diz que o ritmo lento não é uma questão de falta de recursos, e sim da necessidade que ainda existe de se criar uma cultura de investimento no setor.

 

"A crise econômica não afetou os investimentos em inovação, mas o setor tem uma história recente. Até pouco tempo, poucas empresas nacionais tinham políticas de ação em P&D", disse. Segundo ele, a aplicação dos recursos estimados para investimentos no PACTI, de 2007 a 2010, R$ 41,2 bilhões no total, está dentro do esperado. "Devemos chegar ao fim do ano com os R$ 41 bilhões aplicados."

 

A falta de empenho não é uma realidade das grandes empresas, segundo representantes da Anpei. De acordo com levantamento da entidade, o grupo de 150 associados, entre elas as maiores empresas do país, é responsável por 60% dos investimentos privados em inovação no país. "Os investimentos das empresas associadas à Anpei são de duas a três vezes a média do investimento das empresas brasileiras", diz Carlos Calmanovici, presidente da Anpei e executivo da ETH, empresa de bioenergia da grupo Odebrecht.

 

A Braskem, por exemplo, investe 0,5% do seu faturamento em inovação, considerando apenas as pesquisas para o desenvolvimento de novos produtos, e pretende aumentar esse percentual. "Temos aumentado nossos investimentos em inovação todos os anos, e trabalhamos hoje com cerca de 500 pesquisadores", diz Bernardo Gradin, presidente da Braskem.

 

As companhias, porém, dizem que ainda há muitos pontos a se avançar na política de incentivo à inovação no país, e entre eles está a maior participação das empresas na gestão dos instrumentos de fomento ao setor. Outra reivindicação é o maior estímulo à presença dos pesquisadores nas empresas, com ações como a simplificação tributária e trabalhista para as contratações. Segundo executivos, há um excesso de burocracia na contratação de pesquisadores estrangeiros, por exemplo.

 

Para Pedro Wongtschowski, presidente do grupo Ultra, a importância de se investir em inovação está clara entre as grandes empresas, mas não entre as pequenas e médias. "Falta a uma parte das empresas a convicção de que esse investimento tem que ser prioridade e que eles trazem resultados econômicos", diz ele. Por isso, o grupo também defende que existam mais mecanismos de apoio às companhias menores.

(Samantha Maia)

(Valor Econômico, 16/9)