Competições universitárias servem para desenvolver o espírito esportivo e o trabalho em equipe - habilidades indispensáveis para o bom convívio em sociedade. Mas o laboratório Polo Náutico, vinculado ao Departamento de Engenharia Oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi muito mais ambicioso quando criou o Desafio Solar Brasil (DSB), rali de barcos movidos a luz solar. A regata visa estimular e divulgar o potencial das fontes limpas de energia no desenvolvimento de embarcações. Para apoiar a iniciativa, a FINEP concedeu R$ 150 mil em recursos não reembolsáveis, que foram utilizados na compra de 90 painéis solares fotovoltaicos da marca Kyocera, doados às equipes das universidades e instituições participantes. Com duas categorias - catamarã e monocasco - o Desafio permite que as equipes desenvolvam embarcações e circuitos elétricos alimentados exclusivamente por energia solar. Ganha quem chega primeiro ou, em jargão da área, quem articula o sistema de forma mais eficiente.
Realizado anualmente desde 2009, o Desafio é a versão brasileira do Dong Energy Frisian Solar Challenge, campeonato mundial de barcos solares realizado na Holanda que conta com mais de 40 equipes de oito países. A ideia de fazer uma versão no Brasil surgiu em 2008, quando a UFRJ foi convidada a participar do evento. De acordo com o idealizador do DSB e coordenador do Polo Náutico, professor Fernando Amorim, a universidade buscou diversos patrocinadores para viabilizar sua participação. Valeu a pena. Os cariocas conseguiram o 4º lugar na categoria Classe A e o 7º lugar na classificação geral entre 43 equipes europeias.
Em 2012, acontece de 17 a 24 de março uma nova etapa do Desafio em Florianópolis. Em outubro de 2011, aconteceu uma etapa do DSB em Paraty.
- Cada equipe recebeu seis painéis e utilizou baterias com o mesmo limite de armazenamento. A diferença de rendimento entre as embarcações está no circuito desenvolvido pela equipe, e isso inclui a qualidade das conexões, o tamanho dos cabos, os materiais empregados e até mesmo a habilidade do piloto - explica Amorim.
A competição utiliza as mesmas regras do Dong Challenge, mas as provas contam com um circuito de cerca de 40km - menor do que o feito na Holanda, onde os pilotos percorrem mais de 50km. Além das regatas, os barcos competem em provas de desvio de boias, aceleração e revezamento de pilotos. Ao final do evento, os participantes não precisam devolver as placas fotovoltaicas - uma forma de permitir que os grupos dêem continuidade aos estudos em suas instituições.
Além disso, as equipes podem competir com um barco próprio ou utilizar uma das embarcações disponibilizadas pelo Polo Náutico. Para que a participação no Desafio não se restringisse às poucas escolas de engenharia naval do Brasil - são três no total - a UFRJ projetou uma embarcação padrão, um catamarã de 6m, e se comprometeu a construir os cascos para todas as equipes que não reunissem condições técnicas e materiais.
Nova velha tecnologia
De acordo com o professor, os painéis solares constituem uma tecnologia antiga que só se tornou comercial recentemente, por conta da queda dos preços.
- O rendimento das placas fotovoltaicas (quantidade de captação de luz solar que é convertida para energia elétrica) ficou por anos estagnado em 8%. O custo da bateria, necessária para o armazenamento era alto também. A evolução dos equipamentos permitiu um barateamento e, com isso, setores, como agricultura, transporte e pesca passaram a contemplar a energia solar. Mas é tudo muito recente - diz Amorim.
Hoje em dia, os painéis solares fabricados já têm rendimento de 15% e há alguns modelos no mercado que giram entre 23% e 25% - mas possuem alto custo. A edição de 2011 foi a última a utilizar as placas de 8% adquiridas com recursos FINEP.
Leia a matéria completa na revista Inovação em Pauta nº 12.