"Os telescópios vão permitir a observação de todos os objetos astronômicos, desde asteroides, passando por supernovas, até galáxias e aglomerados de galáxias, com informação espectroscópica boa o suficiente para produzir imagens tridimensionais com uma precisão sem precedentes para levantamentos celestes fotométricos", destaca o astrônomo e pesquisador Renato Dupke, da Coordenação de Astronomia e Astrofísica do Observatório Nacional. Ele é o coordenador da participação brasileira no J-PAS, que ganhou por aqui o nome de projeto PAU-BRASIL - com pesquisadores de várias instituições brasileiras, mas com grande ênfase nos pesquisadores do Rio de Janeiro, de instituições como o Observatório Nacional, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
Os dois telescópios do sistema em Teruel devem entrar em funcionamento até 2013. O maior, com 2,5 metros de diâmetro, fará o levantamento principal. O outro, de 80 centímetros, vai servir, entre outras coisas, para calibrar o primeiro, fazer testes de softwares e também para complementação dos inúmeros projetos paralelos dos diversos grupos de trabalho do levantamento, como os de asteroides e de supernovas. "Depois que entrarem em funcionamento, os telescópios devem se tornar instrumentos para a observação de mais de 300 milhões de galáxias, durante os quatro anos de mapeamento do céu", prevê.
O grau de riqueza de detalhes fornecidos pelas imagens dos telescópios, que vão captar objetos astronômicos a uma distância de mais de oito bilhões de anos-luz - um ano-luz equivale a cerca de dez trilhões de quilômetros -, com boa resolução espectroscópica, vai ajudar os cientistas a desvendar os mistérios da energia escura, considerada a responsável pela expansão do universo. "Esse levantamento celeste constitui a próxima geração dos grandes levantamentos fotométricos atuais, como o Dark Energy Survey, e abrirá o caminho para os futuros levantamentos espectroscópicos", afirma o pesquisador.
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Segundo o pesquisador Renato Dupke, o projeto será um marco para a astronomia |
Para o pesquisador, o projeto será um marco para a astronomia mundial. "Será o mais competitivo para os estudos cosmológicos da década. Isso porque a alta tecnologia e a técnica inovadora dos telescópios trarão excelentes investimentos em termos de ciência para cada dólar investido", justifica Dupke. Devido à versatilidade dos telescópios, todas as áreas da astronomia do Brasil serão beneficiadas e, em particular, do estado do Rio de Janeiro, onde a maior parte das pesquisas em cosmologia é realizada. O pesquisador enumera as vantagens. "A participação brasileira no uso dos telescópios será garantida por pelo menos sete anos; pesquisadores do Brasil e da Espanha terão prioridade na liberação de dados; não haverá custos de manutenção do telescópio para o Brasil; e o know-how tecnológico e informacional será transferido para as instituições nacionais envolvidas."
Até o momento, o projeto PAU-BRASIL recebeu, no Brasil, um total de R$ 6,5 milhões. A FAPERJ repassou recursos do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) para a construção de uma estrutura específica da câmera do telescópio principal, que será resfriada em escala criogênica, isto é, que vai trabalhar sob temperaturas extremamente baixas, a partir de 200°C negativos, para reduzir o ruído térmico nas observações. Outras agências de fomento também contribuem para a iniciativa brasileira, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além do próprio Observatório Nacional. "Com o apoio de diversas agências e instituições, o PAU-BRASIL terá grande impacto científico, acadêmico, educacional e tecnológico, aumentando significantemente a visibilidade nacional e internacional para a comuni dade astronômica brasileira", conclui Dupke.
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