UFRJ vai usar célula-tronco contra asma
30/08/2010

Grupo do Rio de Janeiro testará estratégia em 10 pacientes humanos, após bons resultados com camundongos. Dados preliminares são positivos também para teste clínico envolvendo silicose, outra doença das vias respiratórias

Cientistas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) desenvolveram um método para regenerar o pulmão de pacientes com asma -doença respiratória que mata oito brasileiros por dia- usando células-tronco obtidas da medula óssea.

 

O anúncio dos testes clínicos da abordagem foi feito na 25ª reunião anual da Fesbe (Federação de Sociedades de Biologia Experimental), em Águas de Lindoia (SP).

 

A técnica foi testada com sucesso em camundongos, e as primeiras experiências com pacientes devem começar daqui a poucos meses. O projeto aguarda apenas a liberação do Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), órgão do governo federal que autoriza pesquisas com humanos no país.

 

"A asma é uma doença relativamente comum e, por isso, costuma ser subestimada. Infelizmente, ela ainda é causa de muitas mortes", afirmou Patrícia Rocco, médica e professora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ.

 

Reconstrução

 

Uma das características dos casos de asma grave é a diminuição das células mucosas e ciliadas do pulmão, o que contribui para a redução da capacidade respiratória.

 

As células-tronco do teste -injetadas no pulmão por meio da traqueia- conseguiram reconstruir com sucesso essas células. Aparentemente, tais células-tronco tanto podem produzir substâncias que facilitam essa regeneração quanto, em alguns casos, assumir o papel das células que tinham sumido.

 

O método também aumentou a capacidade de resistência dos roedores testados, mesmo em situações em que as cobaias foram expostas a substâncias que fazem as vias respiratórias fecharem.

 

O mesmo grupo de cientistas já tinha conseguido reconstruir o tecido pulmonar em outras doenças: o enfisema e a síndrome do desconforto respiratório agudo.

 

As pesquisas com a silicose -inflamação pulmonar causada pela inalação de pó de sílica- estão num estágio mais avançado e já demonstraram os primeiros resultados em seres humanos.

 

Os testes brasileiros, os primeiros a usar esse tipo de terapia contra a doença, começaram no ano passado. Todos os cinco pacientes tiveram melhora significativa na capacidade respiratória.

Esteira

Na avaliação da caminhada na esteira, todos os voluntários conseguiram melhorar o seu desempenho. "Os tratamentos funcionaram muito bem, mas, pelo número pequeno de pessoas, ainda não temos a comprovação estatística. Estamos confiantes e achamos que isso virá em breve", disse Marcelo Morales, da UFRJ, um dos responsáveis pela coordenação do estudo.

Apesar das respostas positivas, os pesquisadores dizem que a terapia não deve chegar ao público em menos de cinco anos. "Estamos sendo muito cuidadosos e avaliando as implicações do tratamento em todo o corpo, e não apenas no pulmão. Queremos ter certeza absoluta antes de avançar", afirmou Morales.

(Giuliana Miranda)

(Folha de SP, 27/8)