Surtos de loucura, cegueira, paralisia e morte. Apesar do envenenamento por mercúrio já ter causado uma tragédia no Japão nos anos 50, no episódio que ficou conhecido como Síndrome de Minamata, a contaminação do meio ambiente pelo metal pesado continua a aumentar no mundo.
Para combater essa forma de poluição, a Coppe/UFRJ desenvolveu um sistema que remove o mercúrio da água, do petróleo e do gás natural.
O Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep) estima um crescimento nas emissões de 1.480 toneladas em 2005 para 1.850 toneladas em 2020, devendo atingir regiões até então pouco afetadas como alguns países da América do Sul, entre eles o Brasil. E, se nada for feito, até 2050 serão lançadas na atmosfera cerca de 8 mil toneladas de mercúrio. Não parece muito, mas mesmo pequenas quantidades de mercúrio são capazes de provocar sérios danos à saúde.
- Por se acumular no organismo e no ecossistema, mesmo valores baixos de contaminação por mercúrio já são perigosos. O mercúrio orgânico é o mais letal e pode estar presente, por exemplo, em peixes contaminados. Um rio afetado contamina peixes que, ingeridos, contaminam pessoas. As correntes atmosféricas e a migração dos pássaros também são capazes de levar o mercúrio a longas distâncias. Por essa razão, medidas regionais não são suficientes para conter a contaminação. Precisamos de decisões de alcance global, pois o mercúrio tem grande capacidade de disseminação, com transporte de longo alcance - diz Vera Salim, professora de Engenharia Química da Coppe/UFRJ e coordenadora do projeto.
O processo criado pela Coppe, que já gerou dois pedidos de patente, capta o mercúrio sem deixar resíduos tóxicos, evitando o passivo ambiental produzido nos métodos tradicionais em uso, explica Vera.
No sistema concebido pelos pesquisadores do Laboratório de Fenômenos Interfaciais da instituição, o material contaminado com mercúrio passa por uma coluna com adsorvente, um sólido a base de fosfato, que captura o metal e o fixa na sua estrutura, evitando a recontaminação do meio ambiente.
Nos outros processos existentes, ao se regenerar o adsorvente o mercúrio é condensado, transformando-se em mercúrio líquido, que tem que ser removido e estocado. Muitas vezes, porém, este mercúrio acaba "fugindo" e contaminando novamente o meio ambiente.
- Não temos dados sobre a quantidade e a forma como esse metal é armazenado. O risco de gerar um passivo ambiental é grande. Já o nosso adsorvente é mais estável, com uma capacidade maior de imobilização do mercúrio - conta a pesquisadora, que lembra que o Brasil já aparece como o sétimo país do mundo nas emissões de mercúrio. - Apesar de verificarmos um crescimento expressivo dos níveis do metal no Brasil e no mundo, há carência de dados precisos para melhor avaliarmos seus efeitos.
(Cesar Baima)
(O Globo, 27/8)