Saúde mental preocupa especialistas | foto: Artur Moês (COORDCOM/UFRJ)
O isolamento social é a ferramenta mais importante contra a COVID-19, previne o avanço da doença e protege dos efeitos danosos do vírus. Porém, tanto a quarentena quanto o medo de uma enfermidade nova impactam diretamente na saúde mental das pessoas.
Maria Tavares Cavalcanti, professora do Instituto de Psiquiatria, afirma que uma alteração radical de vida de maneira tão brusca não muda apenas o cotidiano individual e familiar, mas também é um abalo na organização da sociedade. “Nós nos damos conta de que o espaço da nossa casa, o espaço da nossa intimidade era de fato o espaço menos habitado por nós”, explica.
Segundo Cavalcanti, uma série de estudos realizados com isolamentos de contaminados ou suspeitos de outras doenças aponta que os dois grupos mais vulneráveis a efeitos na saúde mental são as pessoas com antecedentes de transtornos psicológicos e os profissionais da saúde. O primeiro grupo pode sofrer com mais crises de ansiedade e momentos de depressão, mas, paradoxalmente, as pessoas que tinham como gatilho principal de suas crises fatores externos, como o trabalho ou o fato de sair de casa, podem ter alívio dos sintomas. Já os profissionais de saúde, que são a linha de frente no combate ao vírus, lidam com o estresse, a pressão psicológica e os riscos da doença diariamente. E os efeitos psicológicos negativos, que podem persistir por meses após as experiências ruins, são, sobretudo, sintomas de estresse pós-traumático, ansiedade, raiva, medo, irritabilidade e comportamentos evitativos. “Nesses casos, a comunicação continua sendo essencial, bem como a garantia de proteção, a sensibilidade das chefias para a realização de escalas de trabalho mais justase eficientes para todos os envolvidos, a garantia de suprimentos adequados, transporte, respeito à população.” A professora ressalta que, em momentos como este que estamos vivendo, a tendência é que as pessoas comecem a perceber que são necessárias mudanças radicais na forma de levar a vida: que o vizinho idoso e o morador de rua são responsabilidade de toda a comunidade. “A organização do Estado, o pagamento de impostos para o cuidado com os mais vulneráveis não me desobriga do que eu posso e devo fazer com aquilo que está ao meu alcance, para além dos tempos de coronavírus. O Estado não é uma entidade para além de mim.Ele é também eu, somos nós.” Esse aumento da consciência de responsabilidade comunitária contrasta com o aumento do sentimento de solidão que o isolamento pode causar. Para minimizar essa sensação, a psiquiatra afirma: é necessário se reorganizar internamente e promover outros meios de contato social, como ligações e videochamadas, além de consultas psicológicas de maneira virtual. As ferramentas tecnológicas podem funcionar de maneira protagonista, tanto as que aproximam socialmente as pessoas como também as que levam cultura e arte para o público. Livros, filmes, música e jogos são formas de exercitar a mente e manter a distração. Mas Cavalcanti alerta que o consumo frenético de notícias e rumores sobre a COVID-19 pode causar ainda mais sensações de ansiedade e pânico. A professora deu ainda outras dicas de atividades para manter a saúde mental neste momento. “É importante manter uma rotina, com exercícios, alimentação saudável, estudo e/ou trabalho, além de lazer. Exercícios de relaxamento, como meditação e respiração, também ajudam e podem ser encontrados facilmente na internet.” Veja abaixo mais dicas da professora Maria Tavares Cavalcanti para lidar com o isolamento: - Converse com pessoas nas quais você confia. Entre em contato com seus amigos e familiares. - Ao ficar em casa, mantenha um estilo de vida saudável (incluindo uma dieta adequada, sono, exercício e contato social com os entes queridos em casa). - Mantenha contato com familiares e amigos por e-mail, telefonemas e uso das mídias sociais e outras plataformas. - Não use tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com suas emoções. - Se você se sentir sobrecarregado, converse com um profissional de saúde, assistente social,ou outro profissional ou pessoa confiável em sua comunidade. - Tenha um plano para onde ir e procurar ajuda para a saúde física, mental e psicossocial, se necessário. - Conheça os fatos sobre o seu risco e saiba como tomar precauções. Use fontes confiáveis para obter informações, como o site da Organização Mundial da Saúde, da UFRJ ou uma agência de saúde pública local. - Diminua o tempo em que você e sua família passam assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas perturbadoras. - Use as experiências e habilidades que você usou no passado em tempos difíceis para gerenciar suas emoções durante o surto. Clique aqui para acessar a notícia na íntegra.Fonte: Site UFRJ (Adaptada)