Malvina Tuttman, recém-nomeada para instituto responsável pelo exame, não descarta hipótese, levantada pelo ministro da Educação no ano passado; problemas no sistema de seleção para universidades federais por meio da nota do Enem prosseguiram na quarta.
A nova presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), Malvina Tuttman, disse ao Estado que estuda tirar a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) das atribuições do órgão. "Pode acontecer como consequência das avaliações que estamos iniciando, mas ainda não tenho essa resposta", afirmou.
Problemas com o exame e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usa as notas para selecionar alunos para instituições públicas de ensino superior, derrubaram dois presidentes do Inep em pouco mais de um ano. Malvina, ex-reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), foi nomeada na terça-feira.
A hipótese de se criar um outro órgão para cuidar apenas do Enem foi levantada pelo próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, no ano passado.
Segundo Malvina, o principal objetivo do Inep deve ser "o fortalecimento das políticas públicas", disse. "Iremos traçar um plano diretor daqui para frente."
Além do Enem, o Inep é responsável pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), pelos censos da educação básica e superior, pelo Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e pelo Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).
Desde 2009, quando o Enem se tornou instrumento de ingresso em muitas universidades federais, ele passa por problemas. Houve vazamentos, exposição de dados confidenciais dos candidatos, exemplares do exame com questões a menos, falhas sucessivas no sistema de inscrição online, entre outros.
Neste ano, 83.125 vagas estão em disputa pelo Sisu, que encerra até as 23h59 as inscrições. Mas o site do sistema seguia instável na quarta-feira, com muitos alunos relatando dificuldades. Segundo o MEC, até as 18 horas haviam sido realizadas 1,5 milhão de matrículas, por cerca de 800 mil estudantes (cada candidato escolhe até duas opções de curso). Mas a cifra não representa 25% de todos os alunos que prestaram o último Enem - foram 3,5 milhões.
Desde sexta, quando os primeiros problemas foram relatados, Haddad preferiu o silêncio. Nem quando as reclamações aumentaram no domingo ou quando a Justiça determinou a ampliação do prazo de inscrições, Haddad deu explicações. A troca da presidência do Inep foi anunciada em Diário Oficial sem declarações do ministro. Em resposta à crise, Haddad só adiou suas férias, que começariam amanhã, em dois dias.
As inscrições no Sisu terminariam na terça-feira, mas uma decisão judicial ampliou o prazo. Com isso, a abertura de inscrições para o Programa Universidade Para Todos (Prouni) foi adiada para amanhã. Mas pedidos de liminares que buscam a suspensão do Sisu aguardam decisão na Justiça Federal no Ceará e em Pernambuco.
O juiz encarregado no Ceará prometeu um parecer até a tarde de hoje. Lá, defensoria e ministério públicos pedem que os candidatos com as notas do segundo dia de provas anuladas tenham acesso às folhas de respostas e aos argumentos da banca da redação. Estudantes acionaram a Justiça, contestando a explicação do MEC de que a anulação ocorreu não teria sido preenchida na folha de gabarito a cor do caderno de questões recebido - eram quatro cores. Na quarta-feira à noite, a primeira liminar foi concedida a uma estudante do Rio.
(Lisandra Paraguassu)
(O Estado de SP, 19/1)