China estimula inovação e patentes
10/01/2011

Governo quer 2 milhões de patentes, em áreas como energia solar e eólica, telecomunicação, baterias e carros. País quer deixar de ser fábrica de cópias; empresas prolíficas em registros ganham prêmio e isenção fiscal.

A China tenta construir uma economia que dependa da inovação, e não da imitação. Seus líderes reconhecem que ser a oficina de baixo custo da economia mundial para a montagem dos produtos inovadores projetados em outros países - o iPad e outros bens de alta tecnologia servem como exemplos - é um método limitado.

Um recente documento governamental contém metas para elevar drasticamente a produção nacional de patentes. Publicado em novembro pelo Serviço de Propriedade Intelectual da China, tem o título "Estratégia Nacional para Desenvolvimento de Patentes (2011-2020)".

A meta chinesa para o número anual de patentes solicitadas até 2015 é de 2 milhões. O número inclui "patentes de modelos de utilidade", que tipicamente envolvem detalhes de engenharia de um produto, e são menos ambiciosas que as "patentes de invenção".

Em 2009, cerca de 300 mil solicitações de patentes de utilidade foram apresentadas na China, total mais ou menos semelhante ao das patentes de invenção, que nos últimos anos vêm crescendo em ritmo mais rápido que as primeiras.

Aceleração

Em outubro, a Thomson Reuters lançou um relatório em que previa que a China ultrapassaria os Estados Unidos em número de patentes solicitadas já em 2011. "Está acontecendo mais rápido do que antecipávamos", afirma Bob Stembridge, analista de propriedade intelectual na Thomson Reuters.

O documento indica, por exemplo, que a China pretende em geral duplicar seu número de analistas de patente, para 9.000, até 2015 (nos EUA, eles são 6.300).

A China também deseja dobrar o número de patentes que seus habitantes e empresas solicitam no exterior.

Segundo o diretor do Escritório de Marcas e Patentes norte-americano, David J. Kappos, as solicitações chinesas recentes nos EUA são principalmente em áreas que a China declarou prioridades industriais, entre as quais energia solar e eólica, tecnologia da informação e telecomunicações e fabricação de baterias e automóveis.

A China introduziu diversos incentivos. Eles incluem bonificações em dinheiro, melhores acomodações para as pessoas que solicitam patentes e isenções tributárias para as empresas prolíficas na produção de patentes.

A estratégia é orientada e patrocinada pelo Estado. Isso deveria preocupar os EUA?

"A esta altura, é uma abordagem de força bruta, enfatizando a quantidade de ativos de inovação, e não sua qualidade", afirma John Kao, consultor empresarial e governamental de inovação.

A China, diz Kao, não só é muito maior que o Japão mas também uma sociedade mais empreendedora em termos individuais. Ele prevê que um dia empresários chineses desempenharão o mesmo papel de Steve Jobs e Mark Zuckerberg (criadores da Apple e do Facebook).

Kao afirma, porém, que os EUA estão em vantagem comparativa porque são o país mais aberto a inovações. "A cultura norte-americana, mais que qualquer outra, perdoa fracassos, tolera riscos e abraça a incerteza."

"Mas o futuro dos EUA está em orquestrar e em servir como integradores de sistemas", diz Kao. "Veja o Vale do Silício. É um lugar onde pessoas inteligentes de todas as nações e todos os grupos étnicos se unem. É a capital da inovação integrada."

(Steve Lohr, do The New York Times)
(Folha de SP, 9/1)