Unidade reúne coleções do povo da etnia Ticuna, além de documentação produzida sobre a história e os costumes dos mais de 30 mil índios das aldeias da tribo.
O primeiro e único museu organizado por uma tribo indígena vai ter ajuda da Universidade Federal do Rio de Janeiro para se tornar uma instituição.
Instalada na cidade de Benjamin Constant, no Alto Solimões, a cerca de mil km de Manaus (AM), a unidade reúne coleções do povo da etnia Ticuna, além de documentação produzida sobre a história e os costumes dos mais de 30 mil índios das aldeias da tribo, mas ainda não tem organização institucional. Para tanto, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão vinculado ao Ministério da Cultura, repassou R$ 93 mil para a UFRJ no último dia 28 de dezembro.
O dinheiro será usado para treinamento dos índios responsáveis pela organização do museu, na montagem de um site e na confecção de material impresso para divulgação do museu.
"Já estamos ajudando a consolidar o projeto, que existe desde 1990 e que apesar de ter uma presença política forte na região e também junto aos indígenas, ainda não tem uma fachada pública organizada", afirmou o antropólogo e professor da UFRJ, João Pacheco de Oliveira, coordenador do projeto na universidade.
Ele lembrou que a iniciativa do museu Magüta, que é pioneira no Brasil, foi premiada pelo Conselho Internacional de Museus (Icom) em 1996, o que não a livrou de dificuldades de funcionamento devido à complexidade dos projetos organizados pelos próprios indígenas.
"São projetos relativos ao meio ambiente, à saúde, à educação, mas são coisas precárias, com instabilidade financeira, porque o trabalho está associado às aldeias, ao conselho de caciques. Então, a nossa ideia, a partir dessa parceria com o Ibram, é integrar o museu Magüta ao Sistema Nacional de Museus e resolver, por exemplo, algumas dificuldades financeiras", explicou.
O presidente do Ibram, José do Nascimento Júnior, enfatizou que essa parceria com a UFRJ vai reforçar a relação que o órgão já tem com o museu Magüta e com os ticuna.
Ele adiantou que já há entendimentos para expandir o projeto, com a instalação de módulos do museu nas diversas aldeias da tribo no Alto Solimões. "A valorização da cultura indígena é uma das expressões do Ministério da Cultura e, se houver necessidade, podemos aumentar a verba destinada ao museu, que está instalado na tríplice fronteira do Brasil, com a Colômbia e o Peru".
Os índios da etnia Ticuna habitam as cabeceiras dos igarapés do Rio Solimões (AM) e acreditam que são nascidos das águas. De acordo com o professor Pacheco, os primeiros contatos com os não índios datam do final do século 17.
Além do município de Benjamin Constant, as aldeias dos ticuna estão espalhadas por Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, e Santo Antônio do Içá, todos no estado do Amazonas. Eles acreditam que a árvore é mais que um símbolo de vida e que nela está contida toda a memória do mundo.
(Agência Brasil, 4/12)