"O livro de Sergio é capítulo relevante de uma história fundamental que ainda vai muito longe".
José Monserrat Filho é jornalista, jurista especializado em Direito Espacial e, atualmente, chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do MCT. Artigo enviado pelo autor ao "JC e-mail":
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, está lançando hoje, a partir das 17h, na sede do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio, o seu livro "Momentos da Ciência e Tecnologia no Brasil - Uma caminhada de 40 anos pela C&T".
Robert Lent diz na orelha da obra que "Sergio despede-se de sua profícua gestão como Ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula, reunindo neste livro artigos publicados ao longo de sua vida como cientista participante e como gestor público", mas conclui afirmando que "o país não pode prescindir de um gestor tão qualificado quanto ele".
Por falar em Lula, é ele quem escreve a apresentação, traçando um panorama do muito que foi feito em seu governo no setor de C&T, a começar pelo emblemático Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional (2007-2010), o chamado "PAC da Ciência". Nunca antes neste país, vale parodiar, houve um plano assim, com tamanha amplitude e tantos recursos investidos (R$ 41,2 bilhões).
Ele enfatiza: "Na infraestrutura em pesquisa estou certo de que a criação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) e a ampliação do Programa de Infraestrutura em Pesquisa (Proinfra) ajudarão o Brasil a dar um salto de qualidade da ciência aqui produzida".
E mais: "A outra novidade é o Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec). Este será a nossa Embrapa da indústria".
Para Lula, nos temas de ponta "nós, brasileiros, não podemos nos apequenar. É preciso ousadia para romper as tentativas de 'colonialismo tecnológico', como o Sergio gosta de dizer, para sermos referência também nas chamadas áreas de fronteira da ciência e também nas portadoras de futuro".
O presidente nota que "em muitos momentos deste livro o autor reclamou o quanto no passado o Estado esteve ausente da compreensão de que ciência e tecnologia, em qualquer lugar do mundo, são motores do desenvolvimento".
E, claro, ele não poderia deixar de falar no seu xodó, a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), "um dos maiores feitos do meu governo", que só este ano mobilizou cerca de 20 milhões de estudantes (mais de 10% da população brasileira) de mais de 43 mil escolas públicas em todo o país e 120 mil professores voluntários.
Conclusão de um Lula orgulhoso pela escolha que fez: "As realizações de meu governo nesta área têm um grande fio condutor que começou lá atrás, com o apoio de gente como Sergio Rezende, que, certamente, e não por acaso, acabou sendo meu ministro de Ciência e Tecnologia e comandante do PAC da Ciência".
No prefácio, o físico Alberto Passos Guimarães, membro da Academia Brasileira de Ciências, ressalta "estão aí representados 40 anos de debates e lutas, que tratam de questões que vão desde a cassação de cientistas nos anos de chumbo da ditadura até a nova pauta de criação de uma cultura de inovação entre nossos empresários".
Ele salienta que, durante a gestão de Sergio Rezende, "o MCT viveu uma fase extremamente frutífera": os dispêndios do ministério foram seis vezes maiores do que em 2000 e os recursos do FNDCT tiveram um crescimento de 15 vezes, chegando a (mais) de R$ 3 bilhões. E que apesar de trabalhar com dedicação, nunca se afastou da pesquisa em sua área, a física da matéria condensada, em que tem dado "importantes contribuições". A Folha de S. Paulo, diga-se de passagem, publicou este ano interessante matéria sobre as proezas do "ministro-pesquisador".
Como se não bastasse, Sergio tem sido ativo colaborador do "Jornal da Ciência" e do "JC e-mail". Bom número de textos publicados nestes veículos da SBPC aparece em seu livro.
A propósito, vale lembrar seu artigo "O efeito do pacote na política de C&T", publicado pelo "Jornal da Ciência" no dia 7 de maio de 1998, quando Sergio era Secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco.
Ele alertava: "... pela primeira vez em 30 anos, ocorreu, em 1997, queda no número de bolsas. Com o recente corte determinado pelo pacote econômico do governo, o orçamento do CNPq caiu de R$ 490 milhões para cerca de R$ 400 milhões e, em consequência, o número de bolsas de 1998 deverá ser 10% menor. O efeito dessas sucessivas quedas no número de bolsas será sentido pelos candidatos aos programas de iniciação científica e de pós-graduação imediatamente. Porém, o efeito maior será sentido pelo país dentro de alguns anos, quando perceber que não será possível competir no terceiro milênio sem uma sólida base universitária e de C&T".
Mal sabia Sergio que, no terceiro milênio, a crise seria revertida e se conquistaria uma nova e promissora situação, e ele próprio seria um dos grandes artífices desta mudança.
O número de bolsas do CNPq e da Capes tem aumentado sistematicamente. E o orçamento do CNPq anda pela casa do 1,5 bilhão.
Alberto Passos tem razão: "Vamos sentir muito a falta de sua presença na direção do MCT".
Enfim, o livro de Sergio é capítulo relevante de uma história fundamental que ainda vai muito longe. Lê-lo é o mínimo que se pode fazer a esta altura do jogo.